sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ocupação Gisele Lima, na luta por moradia em Valença

Texto publicado na edição 30 do jornal Valença em Questão

Era sábado, 22 de março de 2008, dia ensolarado em Valença. Neste dia, moradores da Varginha comemoravam um ano da Ocupação Gisele Lima. Na festa, feijoada para todos. Mas o quê há para se comemorar?


Quem tem (teve ou queira ter) a oportunidade de caminhar por aquele espaço, hoje contrastado entre solo rachado pelo sol com um lamaçal causado pelas últimas chuvas, muito provavelmente ficará com algumas perguntas na cabeça. Difícil não ficar. Talvez em uma primeira ou segunda visita o sentimento que pode surgir é o de revolta. Mas não quando você passa a conhecer (minimamente) as pessoas que ocupam esse espaço. É um ambiente, que por mais problemas que pareça ter (e tem!), transmite um paz de espírito, incrível a sensação de bem-estar que as pessoas de lá te proporcionam.

Opa, peraí! Alegria de ver aquelas casas inacabadas, abandonadas pelo descaso das “políticas públicas de habitação de nossa cidade e estado”? Como ficar em paz de espírito ao ver - aliás, não ver – saneamento básico, lazer, educação, infra-estrutura? Na verdade, essa sensação boa é por saber que aquelas pessoas estão felizes. “Vamos pessoal, hoje comemoramos um ano de ocupação Gisele Lima!”. “Olha a feijoada! Vamos nos unir mais uma vez!”. “Estas são nossas casas, ninguém vai tirar! É muito melhor aqui do que onde eu estava antes de conhecer os sem-teto!”. São frases, palavras, gestos, feições, que demonstram uma coragem, uma determinação, um sonho a ser conquistado.

Que força tem aquelas pessoas! Que poder de luta e organização! Quanta humildade, determinação e esperança! Olhando ao redor, podemos ver barracos construídos com as capas plásticas que embrulham os colchões nos quais dormimos. Ao lado, uma casa inteira de pau-a-pique relembrando o nordeste que conhecemos dos filmes. Com essa vista, relembramos o acampamento Manoel Congo, na Fazenda do Vargas, com cenas semelhantes. Caminhamos, em silêncio, até que um pouco à frente uma família inteira prepara as bandeirinhas (feitas de jornais e revistas) para enfeitar a quadra da Varginha para a festa que começaria mais tarde. São cenas que marcam. Crianças, jovens, adultos, todos trabalhando juntos, para um bem comum. A festa coletiva, de todos, em que todos vão participar, em que todos se esforçam para que seja bem sucedida. No dia-a-dia faltam-nos exemplos assim.

Após andar e ficar por alguns minutos, é possível compreender o motivo da festa. Neste dia, homens, mulheres e crianças da ocupação Gisele Lima comemoram a oportunidade que muitos nunca tiveram: ter uma casa e a chance de recomeçarem suas vidas. Como foi saboroso o feijão com arroz feito na hora; como foi bom ver aquela bandeira do MST, vermelha, imponente, representando a luta daquelas pessoas com os rostos sofridos, as mãos calejadas, mas o sorriso nos rostos. E aquela bandeira representa também a nossa luta, que se soma aos sem-terra e sem-teto, para tentarmos mostrar a sociedade um novo jeito de se viver, produzir, consumir, preservar, pensar e agir.

Parabéns à ocupação Gisele Lima! Parabéns a todos os homens e mulheres que constroem a cada dia o sonho de uma nova sociedade, justa, ecológica, fraterna, enfim, socialista, como mesmo dizem. Parabéns às crianças que ali moram e já sabem da luta que irão travar (e que já travam).

Comemoremos todos a oportunidade de termos em Valença um movimento que lute e organize nossa sociedade por causas verdadeiramente populares. Que dia, que tarde! E, apesar do aniversário ser deles, quem ganhou o presente fomos nós: uma bela feijoada, uma tarde de bom papo e 4 quilos de quiabo orgânico, da melhor qualidade, produzido no acampamento Manoel Congo. Eles estão alimentando, literalmente, o sentimento de justiça social.

Um comentário:

Aposentado valenciano disse...

É chegado a hora de fazer política para todos. Chegou a hora de Chico Lima para prefeito!